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A Simbologia dos Nomes na Umbanda

Em 2004, eu travei contato com um professor que seria um dos grandes mestres que tive na vida. Roubei trejeitos, formas de falar e as tiradas rápidas. E ele era grande porque ia além da sala de aula, das disciplinas que lecionava e distribuía lições que seriam úteis vida afora.


No início de cada semestre, principalmente com os calouros, ele trazia a mesma dinâmica para iniciar a relação. Ao entrar em sala, ele abandonava dramaticamente seus pertences em cima da mesa nua, voltava-se para a turma e ficava alguns segundos em silêncio. Quando via que seu mutismo tinha atingido um grau satisfatório, com uma expressão indecifrável, ele se dirigia a um dos alunos, “Qual o seu nome?”. Depois da resposta do discente, ele retomava a carga, “E por que lhe deram esse nome?”. Sem que o outro recuperasse o fôlego, “E qual o significado do seu nome?”. Incansável, ele ia do primeiro ao último discípulo com os mesmos questionamentos. Na maior parte das vezes, ele só tinha a primeira resposta e um dar de ombros. Eram caras de ponto de interrogação, olhares envergonhados e curiosidade sobre o caminho que a sabatina iria levá-los. Depois de mais uma pausa cênica, ele arrematava, “Saber a origem de seu nome é saber quem você é, é travar contato com as suas raízes, é olhar com carinho para o primeiro presente que se ganha no nascimento. E o conhecimento do significado de seu próprio nome é exibir gratidão”.


Em novembro de 1908, depois de ser acometido por uma paralisia e os exames médicos nada indicarem, o jovem Zélio Fernandino de Moraes vaticinou em uma manhã, “Amanhã estarei curado”. E cumpriu a promessa como se nada tivesse acontecido com ele anteriormente. Diante da recuperação milagrosa e sem explicações clínicas, Moraes foi levado a uma curandeira, que revelou a mediunidade do rapaz.


Com a família levando algumas recomendações da curandeira em consideração, Zélio foi enviado à Federação Espírita de Niterói. Durante a sessão, ele levantou-se, buscou uma rosa e a inseriu no centro da mesa, médiuns incorporaram - com a reprovação dos dirigentes - caboclos e pretos velhos, espíritos considerados atrasados pelo elitismo do espiritismo daquela época. Por fim, uma das entidades incorporadas, um caboclo, argumentou em prol dos espíritos rejeitados pelos anfitriões, apontou o que seria a fundação da Umbanda, uma nova religião baseada nos conceitos cristãos da caridade e do amor ao próximo, e, diante dos questionamentos sobre sua identidade, forneceu um nome ao público presente.


Como consequência do pedido para que se identificasse, o espírito resolveu se apresentar. "E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim”, esclareceu a entidade.


Quando se apresenta com essa alcunha, o Caboclo das Sete Encruzilhadas tem a intenção de gerar algumas identificações, assim como outras entidades que trabalham na Umbanda. Dentre elas, ele indica a sua associação com o mistério divino orixá que o rege e em que irradiações ele atua e está evoluindo. Quando o Caboclo afirma que não haverá caminhos fechados para ele, essa informação está contida em parte de seu nome - Sete Encruzilhadas. "Sete Encruzilhadas" é uma informação que demonstra que ele trabalha nas sete linhas da Umbanda (Oxalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Iemanjá - incluindo Nanã Buruquê e Oxum, Iansã, Yori e a Linha das Almas) e que, portanto, não existiriam caminhos fechados para o seu trânsito no mundo espiritual.


"Caboclo das Sete Encruzilhadas", a identificação adotada por um espírito responsável pela missão de trazer a boa nova da Umbanda e por caminhar com Zélio em sua gênese, é um nome simbólico. Nomes simbólicos tanto servem para ocultar as identidades como para determinar sua forma de trabalhar, falar e se apresentar na parceria com os médiuns.


Para mostrar um outro exemplo, eu gostaria de fazer essa mesma observação no nome do Exu Tranca Rua das Almas. O verbo trancar significa prender e o fator trancador é o meio pelo qual ele se realiza como ação. Pela observação de que ele se coloca como "das almas", nós também podemos aferir que ele trabalha na Linha das Almas.


Com exceção do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que jamais se manifestou por meio de outro medianeiro que não fosse Zélio Fernandino, os guias que se apresentam com os nomes simbólicos são componentes de uma falange de trabalhadores que carregam esse nome. Por isso, é bastante comum observar vários Exus, Caboclos e Pretos Velhos, por exemplo, trabalhando no mesmo terreiro. Cada um deles carrega sua própria história e o peso de uma caminhada no mundo espiritual.


Há alguns anos, no Centro Espírita Ogum Iara, uma médium trabalhava com o Caboclo Duas Flechas em uma tarefa de descarga. Enquanto passava orientações sobre os acontecimentos planetários e sobre o próprio trabalho da ocasião, ele foi abandonando lentamente a indumentária de caboclo, deixou de lado o charuto e foi levando embora a sua energia. Ao fazer isso, uma outra energia substituiu a primeira e, dando continuidade ao trabalho, a palestra teve seguimento com um guia da falange de André Luiz.


Os nomes simbólicos são importantes para identificar as origens e nos mostrar por onde seguem os trabalhos. Como dizia meu antigo mestre, os nomes são uma espécie de presente - nesse caso, o mimo é de nosso Pai Olorum - que o universo fornece em nosso renascimento, pois os desencarnados - nossos amigos espirituais - também se encontram em suas próprias buscas por conhecimento e evolução.

 
 
 
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