Falange dos Caveiras
- Casa de Caridade Gauisa
- 22 de jul. de 2021
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“Êeeeee Caveira, firma seu ponto na folha da bananeira, Exu Caveira!” Provavelmente, quem tem o costume de frequentar as giras de exu, já ouviu e cantou esse ponto.
E, particularmente, em nossa Casa, ele anuncia a chegada da Falange dos Caveiras, formada pelas entidades trabalhadoras ligadas à Calunga Pequena, mais conhecida como campo-santo ou cemitério. Sob o comando de D. Rosa Caveira, em nossa Casa, eles vêm prontamente prestar a caridade com muita força e disciplina.
Comparando às outras entidades da Umbanda, muitos acham que os Caveiras são intimidadores, um pouco “carrancudos” e um tanto diretos na forma de se expressarem. Mas, na verdade, por trás dessa aparência endurecida, existe um espírito de muita bondade, capaz de, literalmente, ir até as profundezas das trevas e acender a luz do amor divino e misericordioso, auxiliando, com seus conselhos, a condução do destino de todos nós.
Nas palavras de Norberto Peixoto, em sua obra Exu, o poder organizador do caos, “os Exus Caveira atuam no limite entre a vida carnal, que se esvai, e a vida além-túmulo, que inicia.”
Dentre as atribuições dos Caveiras, podemos mencionar a defesa e proteção da energia advinda do desencarne, impedindo que possa ser absorvida ou utilizada como alimento dos espíritos que ainda não encontraram o caminho da Luz. Para isso, não se furtam em exterminar o mal com coragem e destreza, procurando sempre agir com rigor e justiça na aplicação das leis divinas.
A falange dos Caveiras é regida por Exu Caveira. Diz a lenda que, no início da criação dos seres humanos, ele habitou as águas sagradas das quais Oxalá criou tudo o que vemos e não vemos em nosso planeta. Por fim, recebeu de Oxalá a missão de cuidar do desencarne na vida humana, como desdobramento de Omulu.
Conta-se que Exu Caveira viveu na Terra há pouco mais de trinta mil anos e tendo encontrado tudo desolado, precisou se alimentar de um óleo que brotava no chão para sobreviver, fato esse que pode explicar a utilização do azeite de dendê como um dos elementos de seus fundamentos.
Uma das encarnações mais conhecidas, de um dos integrantes da Falange dos Caveiras, foi no Egito, em torno dos anos 670 d.c. e 700 d.C., de um pastor que chamava-se Próculo, que vivia em uma aldeia simples, de família humilde. Na juventude, apaixonou-se por uma moça e para poder pedi-la em casamento e pagar o seu dote, trabalhou duro a fim de acumular riquezas. No entanto, acabou sendo traído pelo seu irmão que, antes dele, pediu a mesma moça em casamento.
Próculo tornou-se um homem rico e conseguiu adquirir metade da aldeia onde morava, tornando-a muito próspera em comparação às aldeias vizinhas. Movidas pela inveja, essas aldeias resolveram atacar a aldeia de Próculo, aniquilando a grande maioria dos habitantes.
Mesmo com apenas 49 habitantes, a aldeia de Próculo decidiu contra-atacar. Logo, todos, inclusive Próculo, foram capturados e acabaram sendo queimados vivos.
Assim, esses 49 espíritos de homens e mulheres que desencarnaram naquele dia, formaram a primeira das Falanges dos Caveiras, a Falange de Tata Caveira.
Dentre os integrantes de outras Falanges dessa linha, os principais são:, João Caveira, José Caveira, Sete Covas, Meia-noite, Pombagiras Rosa Caveira, Maria Quitéria, Sete Ossos, Sete Catacumbas, entre outros.
Já na esfera espiritual, ao receberem o chamado para a caridade, pediram a Zambi (Oxalá) que viessem com a aparência de seu último desencarne. Por esse motivo são chamados de falange dos Caveiras. Muitos aparecem como um grande esqueleto, com as mãos em forma de garras, vestindo uma capa preta com capuz. Outros, aparecem com o crânio metade caveira, metade humano.
Trazem nas mãos algumas ferramentas, como foice, cetro, tridente, variando conforme o tipo de trabalho a ser feito.
“Não tenha medo do meu corpo esquelético, porque posso ser seu amigo e auxiliá-lo a subir, a galgar novos degraus na sua escala evolutiva. Mas também posso ser aquele que aplicará a Lei de Deus, deixando-os nas trevas até que você se reforme interna e consciencialmente. Só dependerá de você, tenha certeza!
Por isso, encerro essa mensagem suplicando a todos os humanos encarnados que joguem o preconceito para baixo dos seus pés, para bem fundo, a fim de que caia onde deve ficar, nos domínios da ignorância.
E que olhem para o Alto, elevem o pensamento ao Pai e se comprometam em contribuir para a constante evolução da Criação.
Deixe o amor fluir. Então, olhará para mim e verá um amigo, um irmão que quer ajudá-lo a trilhar seu caminho sem percalços.
Venha! E, se precisar, apoie-se no meu cetro. Ele estará sempre à sua disposição, desde que queira ser mais um filho de Deus atuando dentro e em prol da Lei d’Ele.
Eu sou Exu Caveira!”
(André Cozta, pelo Senhor Exu Caveira)
Salve a Falange dos Caveiras!
Laroiê Exu!
*Citação extraída da obra O Anfitrião do Campo-Santo, de André Cozta.