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Falange dos Pretos Velhos

Falar de preto velho é fácil, ainda que a emoção embargue a voz e entorpeça nossos sentidos. Difícil mesmo é traduzir em palavras aquilo que o coração só consegue sentir. Toda e qualquer tentativa de explicação acerca da sua representatividade no universo da Umbanda se apequena diante da da sua figura.


Quem já esteve à frente de um preto velho entende bem essa sensação do inexplicável. Procurando melhor decifrar esse sentimento, lanço mão da poesia de Cora Coralina, que nos fala “que muitas vezes basta ser colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, amor que promove. E que isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida.”

Preto velho é assim… Com seus conselhos, sabe como ninguém tocar a nossa alma e, com extremo cuidado, trazer à tona nossas mais profundas feridas.

Norberto Peixoto, em seu livro “Encantos de Umbanda”, muito bem descreve a conduta dos pretos velhos, considerados, não à toa, como “os psicólogos da Umbanda”:


Por meio de sua fala singela e metafórica, eles trabalham com os valores da fé e da importância do bem no coração humano. É uma linguagem de consolo, que sincroniza simplicidade com acolhimento, rica em sua forma de atingir o inconsciente das pessoas sofridas e fervorosas, despertando poderosos elementos de luz e de motivação.
O falar dos pretos velhos conduz o homem para metas realistas de renovação e de melhorias moral, levando a muitos a sensação de libertação e de motivação com o recomeço perante provas e expiações. Não é uma linguagem de catequese, mas de pacificação e de perdão interior, extremamente rica em afetividade.

A falange dos pretos velhos tem vibração originária na linha de Obaluaê, tendo como fundamento proporcionar a evolução dos seres. Muitos deles foram escravos, onde todo o sofrimento e a injustiça vivenciados por eles deram lugar à superação e ao fortalecimento da fé. Pela dor, aprenderam a amar e a perdoar incondicionalmente, assim como prega nosso pai Oxalá. Sendo assim, ascenderam e evoluíram espiritualmente, recebendo a missão de auxiliar os encarnados e desencarnados em sua caminhada evolutiva.


É importante ressaltar que nem todos os pretos velhos foram escravos ou negros. Na esteira da espiritualidade, escolheram ou foram escolhidos com essa determinada roupagem para, de forma mais simples e humilde possível, melhor se fazerem entender por todos, sem qualquer distinção.


O termo “velho” se destina a sinalizar a experiência e consequente sabedoria acerca da vida. Comumente são chamados de vovô, vovó, sendo estes considerados mais velhos que os chamados por pai, mãe, tio ou tia. Apresentam-se em terra pelo nome de onde viveram ou vieram, como por exemplo: Pai Joaquim das Almas, Pai João de Angola, Tia Maria do Congo, Pai José de Aruanda, entre outros.


Embora os preto velhos pertençam a linha originária de Obaluaê, eles trabalham também na vibração dos demais orixás, de acordo com as regiões das quais eles vieram, tais como: Obaluaê (Pai Joaquim das Almas), Oxalá (Pai José de Aruanda), Iansã (Pai Joaquim do Congo), e assim os demais.


As sessões de preto velho no terreiro são marcadas por profunda leveza e calmaria. Os pontos cantados lembram orações que entoam a paz, a serenidade e o amor. Sentados em seu “toco” (banquinho), fumam seu “pito” (cachimbo ou cigarro de palha), e entre uma baforada e outra, escutam pacientemente cada lamento da assistência. Com um galhinho de arruda ou um tercinho na mão, são exímios em desfazerem magias e utilizarem ervas em suas receitas e benzimentos.


Eles são assim. Simples e profundos.


“Quem foi que disse que Deus é julgador de nossos atos?! Ele é divino e misericordioso, é a essência pura do amor. Ele observa...”
Pai Joaquim das Almas.

No dia 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura, comemora-se o dia dos pretos velhos. É um dia de celebrar e homenagear a quem muito nos ensina e nos auxilia em nossa caminhada espiritual. À falange dos pretos-velhos, em especial ao mentor espiritual da Casa de Caridade Gauisa, nosso amado Pai Joaquim das Almas, nossa eterna gratidão.


Sua bênção, PJ!


Adorei as almas!


 
 
 
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Casa de Caridade Gauisa 
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