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OFERENDAS NA UMBANDA

Com boa parte da minha formação mediúnica feita dentro de uma casa espírita, confesso que, no início da minha caminhada na Umbanda, tive dificuldade em compreender determinados rituais que são praticados nesta linda religião de amor e caridade.


Muitos amigos espíritas me questionavam, por exemplo, sobre a prática comum em nossos terreiros de “dar comida para o santo” e como eu me posicionava diante de tal situação, já que espíritos não comem.


Claro que esta minha dificuldade na compreensão de certos procedimentos sagrados era consequência da total e absoluta falta de conhecimento sobre tudo o que há por trás do ato de apresentar uma oferenda. Afinal, como bem diz aquele clássico ponto cantado nas defumações: “Umbanda tem fundamento, é preciso preparar”.


Tudo na Umbanda tem fundamento. Todos os procedimentos, rituais e sacramentos adotados em cada terreiro possuem uma justificativa e um propósito. A luz da Umbanda é apenas uma forma de mostrar que também somos um caminho para a fé racional, no sentido de que há uma explicação para tudo o que é feito. Assim os questionamentos são sempre válidos e sempre bem-vindos, se for para esclarecer, construir e agregar.


Quem estuda o espiritismo (como uma das raízes da Umbanda) pelos livros de Allan Kardec e de outros grandes doutrinadores, sabe bem o quanto se fala sobre a desnecessidade de utilizar quaisquer elementos materiais para intencionar em favor de algo ou para alguém. Em apertada síntese, é dito que o pensamento constitui uma força suficientemente poderosa para realizar quaisquer ações magísticas. Senão, vejamos:


“O pensamento e a vontade são forças plásticas e organizadoras da natureza elaboradas pela mente do Espírito”, nas palavras do filósofo italiano e respeitável escritor espírita do passado, Ernesto Bozzano (1862-1943). No livro Instruções Psicofônicas, publicada pela FEB, o espírito Francisco Dias da Cruz diz que “o pensamento é força que determina, estabelece, transforma, edifica, destrói e reconstrói. Nele, ao influxo divino, reside a gênese de toda a Criação”. Já Emmanuel, no livro Pensamento e Vida, psicografado por Chico Xavier, nos ensina que “a mente é o espelho da vida em toda parte. […] O reflexo esboça a emotividade. A emotividade plasma a ideia. A ideia determina a atitude e a palavra que comandam as ações”.


Prosseguindo no meu caminhar espiritual dentro da Umbanda, posso dizer que hoje estou mais consciente de tudo o que representa o ritual de apresentação de uma oferenda e garanto que há muito mais do que apenas uma intenção direcionada aos Orixás ou às entidades de Umbanda.


Popularmente tratadas como “comidas de santo” ou “despachos”, as oferendas constituem uma forma de se conectar magisticamente com Orixás ou entidades espirituais para fins de agradecimento ou mesmo para postulação. A magia da oferenda atua como um catalisador e movimentador do axé, assim entendido como parte do fluido cósmico universal que a tudo interpenetra.


Rodrigo Queiroz define o conceito de oferenda como “ato religioso de interação do fiel com seu guia, Orixá e forças da natureza. Energeticamente o prana das oferendas é usado em benefício de quem oferenda ou pra quem se destina, ou seja, quando uma oferenda é feita para terceiros. Magisticamente é a movimentação de energias e elementais em benefício próprio ou de outrem. Isso é a síntese pratica de como funciona a oferenda. A Umbanda é o culto à natureza e na oferenda colocamos tudo que é natural”.


Como já mencionado, as oferendas são firmadas por invocações mentais, mas também podem ser conduzidas por mantras (ou comandos verbais). Tanto a invocação mental quanto os comandos verbais têm como objetivo fazer a ligação da dimensão física com o plano extrafísico, onde as entidades espirituais sintonizadas com a intenção depositada na oferenda receberão e movimentarão a sua contraparte astral, conduzindo esta energia a seu destino.


O conhecimento sobre os elementos que são utilizados nestas oferendas facilita esta catalisação e movimentação de axé. Portanto, quando entregamos uma oferenda para um Orixá ou entidade espiritual, escolhemos os elementos que possuem uma correspondência energética com a força que pretendemos conectar.


Adiante, destacamos alguns elementos utilizados em oferendas para cada um dos Orixás e entidades espirituais cultuados em nossa Casa:


Oxalá: inhame, mel, canjica, arroz, manjar, uvas verdes, maçã, pera, melão, boldo (tapete de Oxalá)


Iemanjá: eboya, milho branco, azeite, sal, camarão, flores brancas, elementos do mar (conchas)


Ogum: feijoada, farofa, cerveja, camarão seco, azeite de dendê, inhame, cravo e flores vermelhas, elementos de metal


Oxossi: axoxô ou oxoxô, espiga de milho, coco, frutas em geral, sementes em geral, melaço


Xangô: amalá, beguiri, quiabo, castanha, amendoim, camarão, carne bovina, pimenta, azeite de dendê ou doce, cebola, cerveja preta e fumo


Oxum: omolocum, feijão fradinho, cebola, camarão defumado, inhame


Iansã: frutas (em especial o melão), acarajé, bebidas doces, flores amarelas e espadas de Iansã (ou espada de Santa Bárbara)


Nanã: efó, mugunzá, sarapatel, feijão com coco, batata roxa, uvas roxas, camarão seco, azeite de dendê


Omulu/Obaluayiê: doburu, pipoca, azeite de dendê


Exu e Pombagira: ebó, padê, milho, farofa, azeite de dendê, camarão seco, cachaça


Preto Velho: café, arruda, guiné, alecrim, água mineral


Caboclos: frutas, legumes, raízes, abóbora, mel, fumo


Erês: doces, frutas e refrigerante


O que diferencia uma oferenda da outra é a intenção ou sentimento que alavanca o pedido. A intenção fará a sintonia da pessoa encarnada com espíritos benfazejos. Todavia, se a intenção foge dos propósitos da Umbanda, por exemplo, a sintonia é firmada no plano invisível com espíritos sem ética e moral, gozadores ou vingativos.


Repetimos, mais uma vez, que as boas intenções têm peso perante o Criador e os Orixás e não necessariamente os elementos em si, mesmo sendo os melhores e mais caros. Uma vela e um copo de água com uma intenção altruísta em seu benefício e para os outros tem mais valia do que uma bela oferenda com flores, frutos e demais elementos com um pensamento egoísta em detrimento de terceiros.


Entretanto, por experiência própria, posso afirmar que o processo de conexão e sintonia com os Orixás e entidades espirituais a quem destinamos as oferendas se inicia bem antes do ato de entrega, ainda no processo de seleção e preparação dos elementos. A força que colocamos num simples manusear dos elementos potencializa essas intenções, principalmente se considerarmos as inúmeras preocupações cotidianas que podem nos afastar ou desfocar o direcionamento da oferenda.


O preparo manual dos elementos e a montagem dos pratos numa oferenda já faz parte do processo de catalisação e movimentação do axé, fazendo com que sintonizemos desde o início com as melhores vibrações que necessitamos para manter o nível de energias positivas elevadas.


Nem precisamos ressaltar o quanto a fé pode dar dimensões gigantescas a essa conexão entre os planos físico e invisível.


Outro ponto que merece destaque nas oferendas é o local onde elas podem ser apresentadas. Claro que podemos associar os locais de oferendas às forças que regem as linhas de trabalho na Umbanda para cada Orixá. Assim, teríamos o mar (Iemanjá), rios (Oxum), florestas e matas (Oxalá, Oxossi e caboclos), pedreiras (Xangô), bambuzais (Iansã), jardins (Oxalá e erês), cemitérios (Omulu/Obaluayiê, exus e pombagiras, pretos velhos), encruzilhadas (exus e pombagiras), dependendo a quem ofertamos. O mais importante é que tenhamos consciência ecológica de nossos atos, respeitando a natureza, como parte da força que compõe a egrégora de cada Orixá. Tais atitudes não tiram a sacralidade do ato praticado. Então, não deixe nada que a própria natureza não vá aproveitar, como pratos, bacias e sacos plásticos.


Se a Umbanda enxerga a natureza como algo sagrado, deve fazer de tudo para preservá-la. Assim, a consciência ecológica deveria fazer parte de um preceito religioso, onde o respeito à diversidade ritualística não se confunda com tolerância a abusos.


Além da criação de lugares específicos para apresentar essas oferendas, como o Santuário Nacional da Umbanda, no Estado de São Paulo, e o Parque Ecológico dos Orixás, no Estado do Rio de Janeiro, é comum que alguns terreiros façam suas oferendas dentro de suas próprias Casas, sem necessidade de expor médiuns e assistência a situações de desconforto.


A título de informação, mostramos uma tabela estimativa do tempo de degradação da oferenda de determinados materiais, para que compreendamos melhor a questão da consciência ecológica:

Tempo de Indigestão da sua Oferenda


Material (Tempo de Degradação)


Alguidar (Indeterminado);

Louças ou ibás (Indeterminado);

Lata de alumínio (200 a 500 anos);

Vidro (Indeterminado);

Isopor (Indeterminado);

Metal (100 anos);

Garrafa pet (400 anos);

Copo de plástico (50 anos);

Bituca de Cigarro (5 anos);

Papel (3 a 6 meses);

Pano (6 meses a 1 ano);

Sacolas plásticas (100 anos);

Tampinha de garrafa (150 anos);

Palito de fósforo (6 meses).


Por fim, há sempre muita dúvida sobre como descartar os elementos utilizados nas oferendas. A utilização de material orgânico é preferível à utilização de materiais de plástico, barro, cerâmica, vidro e metal, considerando a consciência ecológica como parte do preceito religioso. Via de regra, todo material orgânico utilizado na oferenda pode ser reciclado ou reaproveitado. O restante pode ser descartado em lixo comum, com todos os cuidados necessários.


Concluímos este texto com uma reflexão interessante de Norberto Peixoto, que responde aos questionamentos que recebo de muitos amigos espíritas. No caso, este importante doutrinador umbandista é categórico ao afirmar que os Orixás e as entidades espirituais não precisam da oferenda. Quem precisa da oferenda somos nós. “Essa afirmação pode surpreender alguns, mas a verdade é que todos os ingredientes usados em uma oferenda liberam seu axé (princípio ativo eterizado) para nos ajudar. O falangeiro que recebe a oferenda (a sua contraparte etérica) não precisa dela em proveito próprio, mas a usa juntamente com outros fluídos e o ectoplasma, em benefício dos médiuns e consulentes”.


Saravá Umbanda!!!!


Fiquem em paz!


Texto do Médium Erik Stofanelli

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