ORIXÁS, INQUICES E VODUNS - As divindades africanas das mitologias iorubá, bantu e jeje-fom
- Casa de Caridade Gauisa
- 23 de fev. de 2024
- 16 min de leitura
As redes sociais trazem inúmeras discussões sobre qualquer tipo de temática.
Uma rápida pesquisa na internet é suficiente para mostrar uma série de pessoas debatendo assuntos ligados à Umbanda e às inúmeras divindades cultuadas no continente africano, seja no período pré- colonização, seja nos anos que sucederam a diáspora africana, até os dias atuais.
Infelizmente, muitas destas abordagens são desprovidas de qualquer fundamento, o que exige daquele que busca a informação um certo cuidado para avaliar a veracidade do que está sendo publicado.
Numa destas navegações pelos Reels do Instagram, me deparei com um vídeo em que uma pessoa explicava para um entrevistador que a palavra “pombagira” estava equivocada, já que sua grafia correta teria origem na palavra “pambu njila”, que estaria associada a um Orixá que responde pela força de Exu no polo feminino.
Dá para imaginar a repercussão negativa desta fala completamente equivocada na comunidade umbandista e candomblecista, já que os argumentos utilizados pelo entrevistado para justificar sua fala não estavam corretos.
Na verdade, Pambu Njila não é Orixá e muito menos um Exu feminino, mas sim um Inquice (ou nkisi) masculino com algumas semelhanças ao Orixá Exu.
Ainda que tais divindades sejam semelhantes, elas não se confundem, porquanto pertencem a mitologias de povos diferentes entre si.
Para tentar entender o que o estrevistado queria dizer, há uma série de conceitos que precisamos conhecer previamente antes de adentrar nos detalhes de como esta divindade é cultuada.
Assim, primeiramente, é importante compreender que os Orixás são divindades africanas oriundas do povo iorubá (nagô), um dos maiores grupos étnico-linguísticos da África Ocidental, que abrange uma parte significativa da população da Nigéria, Benin, Togo e Serra Leoa. Os Inquices são divindades oriundas do povo bantu, grupo étnico-linguístico que ocupava a África Central e o sul do continente, abrangendo regiões que hoje compreendem Angola, Congo, Gabão e Cabinda. A língua quimbundo (ou kimbundu) está inserida neste grupo de linguístico. Já os Voduns (ou vudu) são divindades cujas raízes estão vinculadas aos povos Jeje-Fom, um dos principais grupos étnico-linguístico da África Ocidental, que abrangem o sul do Benin, do Togo e de Gana, onde se estabeleceu o antigo Reino de Daomé, entre os anos de 1600-1904.
Apesar de nos referirmos sempre a divindades, salientamos que todos estes povos são monoteístas, ou seja, acreditam em um Deus Único. Para os iorubás, o Ser Supremo é Olodumarê ou Olorum. Para os bantu, Zambi (ou Nzambi). Para os jeje-fom, AvieVodun. Portanto, não devemos confundir Orixás, Inquices e Voduns com a figura do Deus que criou o mundo.
Estabelecidas essas premissas iniciais, observamos que a Umbanda, na maioria de suas vertentes, abraçou os Orixás da cultura iorubá, a saber: Oxalá, Iemanjá, Oxóssi, Oxum, Xangô, Iansã (ou Oyá), Ogum, Ibeji. Exu não se apresenta como Orixá na Umbanda, mas como entidade em suas inúmerasfalanges. Omulu, Obaluaiê e Nanã são originalmente Voduns que foram incorporados ao panteão iorubá desde a África.
A Umbanda Sagrada, vertente que foi popularizada por Rubens Saraceni, incluiu outros Orixás no culto da religião. Senão, vejamos: Logunan (Oyá-Tempo), Logun-Edé, Oxumaré, Ewá, Obá, Oroiná, Ossain.
O site da Casa de Caridade Gauisa já tem um artigo que trata exclusivamente dos Orixás, da África até as terras brasileiras:
Mas existem muitos outros Orixás do panteão iorubano que não aparecem nos terreiros de Umbanda ou, ainda, que são retratados como qualidades de outros Orixás (tidos como principais ou mais populares).
O fato é que é impossível esgotar este assunto num único texto, seja pela grande diversidade de cultos imposta pelas diferenças regionais e culturais de cada localidade no continente africano, seja pela perda de informação que sucedeu à colonização e a escravização de africanos.
Podemos, contudo, destacar alguns destes Orixás, como, por exemplo: Airá, Axabó, Erinlé, Irocô, Onilê, Odudua, Oraniã, Baiân, Olocum, Olossá, Ocô, Otim, etc.
Na África, cada Orixá está ligado a uma determinada região (vila, cidade ou mesmo um país inteiro). Citamos, a título ilustrativo, Xangô em Oyó, Iemanjá na região dos egbás (onde atualmente encontra- se a Nigéria, nas proximidades do rio Oxum), Ogum em Adô Ekiti (capital do estado de Ekiti, na Nigéria) e Ondô (a maior cidade do estado de Ondô, na Nigéria), Oxum em Ilexá e Ijebu Odé (ambas no sudoeste da Nigéria), Erinlé em Ilobu (no estado de Osun, na Nigéria), Logun-Edé em Ilexá, Otim em Inisa (também no estado de Osun, na Nigéria), Oxalá em Ifé (antiga cidade do estado de Osun, na Nigéria), Oxalufã em Ifo (no estado de Ogum, na Nigéria) e Oxaguiã em Ejibó (no estado de Osun, na Nigéria).
O fato é que não é possível estabelecer quantos Orixás, Inquices e Voduns foram cultuados no continente africano. No total, há quem diga que tenhamos cerca de 400 (quatrocentos). Outros dizem que são 600 (seiscentos) ou até 1.200 (mil e duzentos).
Vamos tentar trazer neste artigo, ainda que de forma reduzida, as principais divindades cultuadas pelos povos bantu (Inquices) e jeje-fom (Voduns).
Lembramos que a grafia dos nomes destas divindades pode conter muitas variações.
O objetivo é mostrar ao leitor que muitas destas divindades, apesar de pertencerem a grupos étnico- linguísticos diferentes, possuem características que se assemelham entre si. Todavia, isso não significa que poderemos dizer, por exemplo, que Aluvaiá (um Inquice) e Legbá (um Vodun) são Exu (um Orixá), não obstante a similaridade de características existente entre ambos.
Nos candomblés, os Orixás são cultuados na nação Queto (ketu) ou de rito nagô. Os Inquices fazem parte do culto de candomblé bantu, também designado como nação de Angola ou Congo-Angola. Já os Voduns fazem parte do culto de candomblé da nação jeje.
Assim, reiterando que não pretendemos esgotar o rol de Inquices e Voduns conhecidos, passamos a destacar algumas destas divindades que integram a riquíssima mitologia banta e jeje-fom, respectivamente:
Inquices
ALUVAIÁ ou PAMBU NJILA - é o Inquice da comunicação, intermediário entre os seres humanos e outros Inquices. Possui uma similaridade muito grande com o Orixá Exu. Também é conhecido como Pambu Njila (ou Bombo Njila ou Bombojira). Além de senhor da comunicação, é detentor dos segredos dos búzios, além de guardião e dono dos caminhos. Sua manifestação feminina é chamada de Vangira (Va-Njila), que representa a sexualidade feminina. Suas cores são o preto e o vermelho. Seu domínio é o fogo e as encruzilhadas. Seu dia da semana é segunda-feira. Sua saudação é Kiua Luvaia Ngananzila Kiua! (Viva, Aluvaiá, o Senhor dos Caminhos!).
ANGORÔ – é o Inquice do arco-íris, que traz a fertilidade do solo com suas chuvas e é representado com uma serpente de duas cabeças, que liga o céu e a terra e está presente em todas as civilizações antigas. Seu simbolismo também está associado ao princípio da sabedoria e o infinito. Sua forma feminina é conhecida como Angoromea. É, portanto, um andrógeno, e seus domínios são equivalentes ao do Orixá Oxumarê e Ewá. Muitas vezes é confundido com a Inquice Dandalunda, senhora das águas doces e da fecundidade. Suas cores são o preto e o amarelo (Angorô) e verde e amarelo (Angoromea). Seu elemento é a água. Seu dia da semana é terça-feira. Sua saudação é Ngana Hongolo Kiambote!Kiua Hongolo! (Salve o belo Senhor do arco-íris! Salve, Angorô!).
CAVIUNGO, KAVUNGO, NSUMBU - é o Inquice conhecido como Senhor da terra, do chão, da ráfia (palha da costa) e das enfermidades. Por esse motivo, tem sua representação vinculada aos Orixás Omulu e Obaluaiê. É aquele que cuida da saúde, da vida e da morte, onde exerce seus domínios. Em seus itans, pune os maus feitores com a varíola. Suas cores são o preto e branco; o preto, vermelho e branco ou; o preto, amarelo e marrom. Sua saudação é Kavungo mateba kukala kuíza! Kiuá Nsumbo! Pembelê Tat'etu Kikongo! Dibixe! (O Pai da ráfia está chegando! Silêncio!).
DANDALUNDA ou KISSIMBI - é a Inquice da fertilidade, do amor e da riqueza, dona da lua, das águas doces dos rios e cachoeiras, Senhora da beleza e do amor. Frequentemente associada à Orixá Oxum. É detentora do segredo dos feitiços mais poderosos, considerada uma bruxa. As águas são seu elemento principal. Suas cores são o amarelo ouro, o cobre e o rosa. Seu dia da semana é sábado. Sua saudação é Nengua Maza Mazenza! "Ndanda Ê"! (Oh, Mãe da água doce! Ndanda Ê!).
KABILA, KONGO NBILA, MUTALAMBÔ ou MUTAKULAMBÔ - estes nomes indicam os Inquices caçadores, responsáveis, também, pelo pastoreio ou pelas pescas (Kongo Nbila), que vivem nas florestas e nas montanhas. Eles fazem parte da tradição de todos os povos que possuem uma divindade responsável pela fartura e pela defesa de suas respectivas aldeias. Em geral, são associados ao Orixá Oxóssi, já que ambos possuem a mesma ferramenta: o ofá. Suas cores são o verde e o azul turquesa. Seus domínios são as matas e a fartura. Sua saudação é Kiua Kabila! (Viva Kabila, o caçador dos céus!).
KATENDÊ - é o Inquice das folhas, da agricultura e da ciência, o Senhor das florestas. É associado ao Orixá Ossain. Usa vestimentas e insígnias ornadas de folhas verdes. Nos itans sobre sua vida, é conhecido como aquele que distribuiu as sementes das plantas sobre a terra. Seus domínios são as plantas e a medicina. Suas cores são o verde e o branco. Seu dia da semana é quinta-feira. Sua saudação é Kisabe aê Katendê, aiue! (Katendê, o Senhor das folhas sagradas!).
KITEMBO - é o Inquice da atmosfera, das estações do ano, da tempestade e do vento, também chamado de Kintombe ou Tempo (na nação de Angola). Está associado ao Orixá Irocô. Reside numa árvore sagrada que, no Brasil, é conhecida como gameleira branca. Suas cores são o branco e o verde. Seu dia de semana é terça-feira. Seu elemento é o ar. Sua saudação é Nzará Tempo! (Glória, Kitembo!).
LEMBÁ - é o Inquice que foi o primeiro a ser criado por Nzambi. Representa o céu, o princípio de tudo, o equilíbrio positivo do universo. É considerado o pai da brancura, da paz, da fraternidade entre os povos da Terra e do cosmo. É o Inquice da compreensão, do fim da confusão. É aquele que vai determinar o fim da vida e da caminhada do ser humano, com a certeza do dever cumprido. É geralmente associado ao Orixá Oxalá. Diz-se que Pambu Njila começa e Lembá termina. É assim que funciona nas rodas de candomblé! Sua cor é branca. Seu dia de semana é sexta-feira. Também é conhecido como Tata Dikumbi (Pai Sol). Sua saudação é Kala Epii! Sakula Lemba Dilê! Pembelé Lembá! (Quietos! Aí vem o Senhor da paz! Eu te saúdo, Lembá!).
MATAMBA - é a Inquice da espada de fogo, Senhora da paixão, Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, vendavais e tufões. É a grande guerreira que comanda os mortos. Mãe dos mvumbi (mortos). É comumente associada à Orixa Iansã (Oyá). Senhora dos cemitérios, justiceira que se transforma em búfalo, na raiva, e em borboleta, nas festas. O fogo é seu elemento básico. Seu domínio está nos ventos e na morte do corpo físico. Suas cores são o vermelho e o marrom. Seu dia da semana é a quarta-feira. Sua saudação é Mametu Mukua Ita Matamba! (Viva a mãe grande guerreira, Matamba!).
NKAIALA, MIKAIA ou KAITUMBA - é a Inquice que é considerada a Senhora dos mares e das cabeças (Mametu Mutuê). Também é chamada de Mãe d’água, assim como Ndanda Lunda. Representa o equilíbrio psíquico e emocional. É guardiã das águas do mar. Chamada de Mikaya quando atua sobre as águas mais profundas, de Kokueto quando atua nas pedras onde as ondas quebram, de Kayala nas areias e na espuma das ondas. É mãe, acolhedora, vaidosa, associada comumente à Orixá Iemanjá. Suas cores são prata e azul. Seus domínios são os mares e as cabeças. Seu dia da semana é sábado. Sua saudação é Kiuá Kokueto, Mametu Ria Amaze, Kiuá! (Viva Kokueto, Mãe das águas! Viva).
NKOSI - é o Inquice guerreiro, das batalhas, Senhor dos metais, da construção, que odeia a injustiça e a humilhação. Rege os caminhos do serviço artesanal e braçal, é o construtor. É responsável pela abertura dos terreiros e pela estruturação arquitetônica dos tempos. É um Inquice de força, desbravador, honesto e trabalhador. Está associado ao Orixá Ogum. Seus elementos são o ferro e o fogo. Sua cor é o azul marinho. O dia da semana é terça-feira. Sua saudação é Luna kubanga kuta kueto Nkosi! Pembelê Nkosi! Kiua! (Nkosi, aquele que briga por nós! Eu te saúdo, leão guerreiro sagrado! Salve!).
NGANGAZUMBA, NKARAMOCE ou ZUMBARANDÁ - é a Inquice da lama e dos pântanos. Em geral, é representada por uma senhora de idade avançada. Por este motivo, está associada ao Orixá/Vodun
Nanã Buruquê. Suas cores são roxo e branco. Sua saudação é Mametu Ixi Onoká, Zumbarandá (Mãe da terra molhada, Zumbarandá).
NVUNJI - é o Inquice mais novo de todos, que representa a juventude, a alegria e a inocência. Possui um título que se chama Izuji Tamariká, que significa “alegria que vem do alto”. Seu dia de semana é domingo. Seu principal elemento é o ar. É a força que equivale aos Orixás Ibeji. Suas cores são variadas. Sua saudação é Nvunji Kukala Pafundi! (Nvunji está feliz!).
NZAZI - é o Inquice que representa a Justiça, aquele que emprega a ordem divina, o Senhor do trovão. É o raio sagrado que cavalga os céus com seus 12 cães (raios). Corresponde a energia do Orixá Xangô. Nzazi pode ser representado juntamente com Loango, com duas cabaças unidas por um pedaço de bambu. Ambos são os raios que unem a Terra (Ixi) e o Astral (Duilo). Suas cores são o vermelho e o branco. Loango usa o marrom. Seus domínios são a Justiça e as pedreiras. O dia da semana é quarta-feira. Sua saudação é A Ku Menekene Usoba Nzazi! Kíua Nzazi! (Salve o Rei dos Raios! Viva Grande Raio!).
Voduns
AGÉ ou AGUÉ - é o Vodun da caça e das florestas, representado comumente com uma só perna, um só braço e um só olho. Foi este Vodun que ensinou aos homens os segredos das plantas e das artes. É protetor e provedor. Comanda todos os elementais da floresta, como elfos, gnomos, etc. Atua, também, sobre todos os animais. Como filho de Nanã, aprendeu os segredos de Iku (morte), que o faz relacionar-se com os akútútòs (eguns). Sua força tem ligação com as características do Orixá Ossain, principalmente, e Oxóssi. Faz parte do grupo de Voduns da terra.
AGBÊ - é o Vodun senhor de Hu, o mar. Ele é representado por uma serpente e é protetor das crianças nascidas com deformidades. Na diáspora, sofreu influências do culto à Orixá Iemanjá, dando origem a uma “qualidade” chamada Agbê Iemanjá.
AIZÃ - é a Vodun cujo nome significa “a esteira da terra”, considerada como a primeira divindade a ser cultuada no astral, fazendo com que ela seja associada a Lebá ou Exu, como sua mãe ou sua esposa. Esta Vodun está vinculada à comunicação, ao dom da palavra, aos mercados e aos espaços públicos, onde as pessoas interagem, onde seus seguidores fazem suas oferendas. É representada como um montículo de terra coberta com folhas de palmas desfiadas do dendezeiro.
AJÁGUNSÍ - é o Vodun da terra, coligado ao universo das Naés (mães d’água), tido como um excelente caçador e pescador que vive na beira dos rios. Rege a força dos animais da terra e das águas. É a divindade da juventude, da alegria, da inocência e da pureza, protegendo os mais jovens. É responsável pelo aprendizado das crianças. Suas cores são o azul, o verde e o amarelo. Sua energia se assemelha à do Orixá Logun-Edé e Odé Karê.
AKORUMBÉ ou AKLONGBÉ - é o Vodun guerreiro do trovão, ligado ao fogo e aos fenômenos do raio e da chuva. Responsável pelo granizo, apreciador de comidas com quiabo. Lidera suas tropas com força e agressividade. Não gosta de ser contrariado. É impiedoso e pune com queimaduras, incêndios e carbonização. Sua proximidade com as características de Xangô fizeram que ele fosse cultuado em terras iorubás como uma de suas qualidades.
AZIRI - é a Vodun que vive nas profundezas das águas doces, que tem a forma de uma serpente aquática. É considerada um Tòvodum (Vodun do oceano), que possui estreitas ligações com os Voduns kavionos (ligados ao fogo, à justiça e ao raio). É uma mãe d’água, com sua força voltada à fecundidade. Rege os animais que vivem em seu ambiente, além da beleza e do amor. Ela une sentimentalmente as pessoas. Mãe Naé, como também é conhecida, possui uma ligação próxima à Orixá Oxum. Sua saudação é Ahobo boy, Akiri!
BADÉ ou GBADÉ - é o Vodun guerreiro e brigão que habita os vulcões e, portanto, ligado ao elemento fogo, assim como Sogbó. Também possui ligações com a morte e a guerra, tido como impiedoso e severo. Poderia ser associado ao Orixá Xangô, mas por vestir-se de branco, teria mais similaridades com Ayrá. É um Vodun do céu, Senhor das chuvas, fato que também o conecta com os Voduns das águas. Suas cores são vermelho, branco, amarelo e azul.
BESSÉM - é o Vodun dos movimentos, dos ciclos, da dinamicidade do universo, das estações de ano. Dizem que é homem e mulher. Na verdade, é a junção entre o masculino e o feminino que perpetua a vida, manifestando o masculino como Bessém e o feminino como Frékwen. É, portanto, ambíguo, duplo, pertencente à água e à terra. Sintetiza a dualidade do ser, como mortal e espiritual. É um Vodun da família das serpentes.
DÃ - é o maior Vodun dentro do culto da família Dan (que significa “serpente”) na nação Jeje Mahi. É a origem de tudo no planeta, sendo um dos responsáveis pela sua existência e por sua habitação. Ele é a serpente que representa o poder. O poço (àndè) é o seu principal símbolo, que é indispensável em qualquer casa de jeje. Simboliza riqueza, prosperidade e abundância. Sua força também se confunde com a do Orixá Oxumaré. É o senhor da transformação, da vidência (juntamente com Fá), englobando tudo o que for relacionado a presente, passado e futuro. Seu colar é o brajá (feito de búzios). Sua cor é o branco.
DJÓ ou JÓ - a Vodun conhecida como a guerreira do ar, ligada às tempestades, raios, furacões, redemoinhos, ciclones, tufões, maremotos, erupções vulcânicas e à guerra. É tida como a Oyá dos daometanos. Também exerce seu poder sobre os mortos. Com sua sabedoria, consegue aplacar a fúria dos deuses e acalmá-los. É uma divindade do panteão de Aveji-da, ou seja, das Voduns guerreiras. É a senhora dos ventos. Usa erugim, adaga, espada de lança curta com a forma de uma meia lua, faca, chicote, chifre de búfalo, fogareiro de ferro, abano de palha, leque e mariwó. Todas as cores são suas. Utiliza metais, em especial o ferro, o cobre a prata. Seu dia da semana é segunda- feira.
FÁ - é o Vodun da profecia, Senhor do destino, muitas vezes chamado de Efá. É dono de todas as sabedorias, da intuição, da premonição, do olhar que conhece o futuro. É a divindade invocada no jogo de búzios, já que conhece todos os destinos (odus), cabeças (ori) e caminhos. Fá, juntamente com Legbá, são os únicos Voduns com autorização para ter acesso direto a Avievódun, quando necessário. Rege o plano onírico, os sonhos, detentor dos oráculos, utiliza as conchas divinas. Sua força é próxima à energia do Orixá Orunmilá.
GU - é o Vodun guerreiro, Senhor do ferro e das guerras. É senhor do fogo, da metalurgia, dos ferreiros, da morte violenta, das cirurgias, das incisões, das circuncisões e das escarificações. É o Vodun da tecnologia, tal como o Orixá Ogum. Sua ferramenta é uma adaga metálica chamada Gubasa, adornada com desenhos. Seu dia da semana é segunda-feira.
HOHO - são os gêmeos Voduns da nação jeje, cuja força guarda similaridade com os irmãos Ibeji da nação iorubá. Seu culto é ligado ao nascimento de crianças, principalmente gêmeos. As gêmeas infantis femininas são chamadas de TOBOSSI.
LEBÁ - é o Vodun com atributos de protetor e de mensageiro entre os homens e os demais Voduns. Seu assentamento é representado por um montículo de barro com um falo ereto, que revela sua relação com a sexualidade masculina. É sempre o primeiro Vodun a ser cultuado, já que fica encarregado de levar as oferendas aos demais Voduns. É guardião dos templos, das casas e das aldeias. Abre caminhos para uma nova ordem mais dinâmica, pelo caos, sendo um transformador. Seu dia de semana é segunda-feira. Sua cor é o vermelho, o multicolorido e o transparente. Por suas características, é sempre comparado ao Orixá Exu.
LISSÁ - é o Vodun conhecido como Deus Sol, responsável pela criação da Terra e dos demais Voduns. Ele comanda o planeta, é austero, velho, que vigia e condena a raça humana de acordo com o que é plantado por cada um. Veste branco e usa joias reluzentes, além de um cajado com um sol na sua extremidade. Há quem considere Mawú e Lissá como deuses supremos, sendo que um habita o sol e a outra a lua. Lissá é o princípio masculino. Suas características o colocam próximo aos Orixás Oxalá e Oxalufã. É um Vodun fúnfún, que sempre é adornado de branco e prata.
MAWÚ - é a Vodun conhecida como Deusa da Lua, a maior divindade do panteão dos povos fóns. Representa o princípio feminino. Ela é benevolente, calma, protetora dos seres humanos, trazendo paz e harmonia para Terra, contrastando com Lissá. Em algumas histórias, é tida como filha e, em outras, como mãe de Nanã Buruku. É a divindade do frescor e do perdão. Traz sonhos para humanidade. Senhora do descanso, da cura e da fé. Há quem confunda sua energia com a da Orixá Iemanjá, pois também atua sobre fertilidade e a vida. Sua relação com a lua também influencia as marés.
NANÃ BURUKU - é a grande rainha fon. Uma mãe universal, que criou o mundo e deu vida aos Voduns. É chamada carinhosamente de vó Misan. Senhora da lama, matéria primordial para a criação do homem. Atua sobre a água e a terra, que a relaciona com a vida (dogbê) e a morte (doku), além de conectar-se à agricultura, à fertilidade e aos grãos. É ela quem recebe os mortos (ghedes) e os prepara para o renascimento (lekô). É conhecedora do uso terapêutico das ervas.
ODÉ DANA DANA - tido por muitos como uma qualidade de Oxóssi, é, na verdade, um vodum, conhecido por ser o Senhor da pólvora e das armas de fogo. É o fogo da mata, que rasteja. Dizem que ele é metade Dã (serpente), metade Odé (caçador).
POSSUM - é um Vodun cuja tradução é homem pantera. É um Vodun do céu com particularidades que o coloca junto aos Voduns da terra. Segundo algumas lendas, este Vodun abre passagem dos mortos até o céu.
HEVIOSSÔ ou KEVIOSSÔ - é um Vodun do céu que se manifesta em forma de trovão e raio, associado ao Orixá Xangô. É o Senhor da Justiça, que castiga ladrões, mentirosos, criminosos e malfeitores. Seus símbolos são o raio, o carneiro e o fogo. Sua cor é a vermelha. Ele utiliza um sô-kpé (pedra de raio) e um sossiovi (machado de uma lâmina com forma de cabeça de carneiro).
SAPATÁ, AZUNSUN ou SAKPATÁ AIYNAN - é um Vodun muito respeitado, considerado o Senhor das doenças contagiosas e o Dono da Terra (Ayinon). Transita entre os povos fon e iorubá, onde é conhecido como Xapanã (Sòpònná). Sua força está associada às doenças e à cura, à riqueza e à miséria. Suas vestimentas levam palha da costa e alguns usam o xaxará, outros bastão, lança e facão. Suas cores são as mais curas, em especial o roxo, o preto e branco, o bordô e o vermelho. Seu culto se mistura ao dos Orixás Omulu e Obaluaiê.
SOHOKWÊ - é o Vodun que tem como principal elemento o fogo. Na mistura de cultos, foi aglutinado à cultura iorubá, passando a ser confundido com Ogun, identificado com a qualidade Xoroquê. É o senhor das trilhas e do fogo líquido. Seu dia da semana é segunda-feira. É guardião das casas de jeje, que só é iniciado na cabeça de Ogãs e Ekédis. Ele é o caminho formado pela lava expelida pelo vulcão. Sua cor é o azul escuro e o vermelho. Seu dia da semana é segunda-feira. Sua saudação é Aho gbo gboy Sohokwe!
SOGBÔ - é o Vodun cujo nome significa o Grande Raio ou o Grande Fogo, que possui ligações com elementais e fenômenos da natureza, da mesma família do Vodun HEVIOSSÔ. Tem o fogo como elemento principal. Representa o crescimento, o progresso e o comércio. É vida, saúde e sexo. Sua saudação é Aho gbo gboy Sogbo!
YEWÁ - é a Senhora da beleza, filha de Nanã com Dã. É símbolo de virgindade e pureza. Há histórias em que ela se relaciona com o Orixá Oxóssi, que lhe deu de presente um casal de gansos negros. Mora no reino dos mortos e exige o cumprimento da moral e dos bons costumes, onde recebeu o caracolo ou aracolê, uma cabaça mágica que contém um pó para se defender dos seus inimigos, camuflando-se e reaparecendo como uma fada, uma bruxa, uma velha, uma moça, uma rainha, uma serva, tornando-a uma Elèyié (feiticeira que se transforma em pássaro). Seu dia da semana é sábado. Sua saudação é Ahobo boy! Higó!
Saravá Umbanda!
Fontes consultadas:
Wikipedia
Portal Meu Orixá
(https://meuorixa.wordpress.com) Alaketu Odé